sexta-feira, 17 de outubro de 2014

sobre vestimentas e reconhecimentos automáticos

Hoje eu vou tratar de um assunto que vem me atravessando bastante desde muito tempo, mas ultimamente com uma perspectiva que ainda me é bastante nova e acredito que enquanto escrevo não só deixarei alguns pontos claros pra todxs que lerem mas também clarearei algumas das questões que ainda me parecem nebulosas quando tento transformar o que eu penso em alguma linguagem que possa ser transmitida de forma segura (porque transmissão de pensamento só acontece de vez em quando). Então aqui vai um pouco do que vem acontecendo nos últimos tempos e o que eu venho construindo à partir disso.
Vou tentar dividir o texto em 2 capítulos que abordam um tema princial e que será esmiuçado de forma voltada para uma questão mais específica no segundo capítulo.
. Construindo interna e externamente
Então é assim, agora finalmente me compreendi como não cis e pude declarar de forma clara e "rotulada" uma suposta identidade de gênero, no meu caso... Olares, sou Essx Tal Roquenrou. Sou não binárix. Isso significa que não sou homem. Mas também não significa que sou mulher. Não significa necessariamente que quero fazer qualquer tipo de processo de hormonização, de cirurgias, alterar meu tom e voz, minha postura, minha forma de andar, minhas vestimentas... Enfim, me identificar como não-homem não me faz ter que construir automaticamente uma nova identidade social, como se à a partir dessa identificação eu tivesse que assumir determinadas posturas, gírias e produções que são características de determinada tribo social. Também não significa que tenho que andar impecável e ser magrx e andrógenx e me vestir de determinada forma porque é assim que fica "fácil de reconhecer pessas que não parecem nem homem nem mulher e aí sim pode dizer que é não binário, você é homem."
Inclusive, vale a pena ressaltar : Não. Não sou um homem de saia. Toda vez que me veem como um homem de saia estão me ferindo, me desrespeitando. Estão colocando uma barreira invisível entre o que eu sou e o que meu corpo representa. Então suprimindo o meu eu em prol da existência de uma casca protetora que eu sinto carrasca que abriga, protege e escraviza a minha existência.
Isso quer dizer que não posso ser ele. Nem posso ser ela. Ele não é o Roque. Ela também não é. Então, quem é Roque ? É tão difícil responder para vocês quanto é para mim. Não vou corrigir esse texto e vou reler e ver quantas vezes eu esqueci e me referi a mim no masculino. A desconstrução é lenta e no fundo a gente vai engolindo um monte de coisa que não vai mudar. Não vou deixar de ser o filho amado de papai e não vou deixar de ser o júnior da mamãe, não vou deixar de ser Sr. pra pessoa que me atende na padaria, mas podia deixar de ser várias coisas, pra várias pessoas muito mais próximas, se houvesse um pouquinho mais de cuidado (mas o texto é grande e nem se se vão ler)... Mas a resposta é não. Não tem uma forma correta. A coisa toda é muito subjetiva então eu vou dar assim, uma "fórmula" que me ajuda muito a explicar quais pronomes eu prefiro. Neutro é meu preferido. (Um exemplo de neutro é escrever/dizer linde/lindi, maravilhose, etx...). Entre os dois pronomes binários eu prefiro o feminino ao masculino apenas pelo masculino ser meu pronome biológico, o que faz com que não seja criado nenhum questionamento em relação ao meu gênero o que me transforma automaticamente em homem por uma série de questões estético performativas características (e um certo preconceito em relação a transgeneridade ser necessariamente andrógena ou transexual) e, em consequencia disso acrescenta-se mais um estereótipo, o de homem gay. Acompanhem agora que o problema aqui não é um preconceito homofóbico de ser considerado gay, mas a confusão de gênero que é feita quando, ao beijar um homem, sou identificadx como homem gay e não como trans bi/pan sexual ou ainda mais próximo da realidade, asexual panromantica/poliromantica. Ser reconhecido como gay implica não só uma identidade de gênero masculina como uma orientação sexual dentro do espectro transante da sexualidade, retirando completamente a visibilidade do espectro asexual, demisexual e outros que habitam o universo LGBTTQIA+. Diminuindo assim a visibilidade da minha real identidade de gênero e ainda me tratando e se referindo a mim de uma forma que me fere enquanto sujeitx. Portanto, voltemos a apresentação:
Oi, meu nome é Roque, eu sou não binárix, asexual e panromantico.
: O pronome
Nascer um país cuja língua tem antecedentes latinos pode ser mera curiosidade para alguns, mas há os que percebem (ok, todos qe fazem cursinho de inglês) que nossa língua da gênero para todas as coisas o tempo todo. Coitadxs dxs mesas, cadeiras, borrachas, carros, elevadores e bonecxs por aí que estão com seus gêneros trocados. Mas a maioria de nós nunca se pergunta porque chamamos mesa de A Sr.a Mesa, ou, mais vulgarmente, a mesa. Acredito que de nós, existam aquelxs que acham isso engraçado, outrxs acham isso curioso ou "um saco", mas poucxs de nós realmente se incomodam, ou melhor, são atravessadxs por essas questões. A grande maioria lida com isso como mais uma curiosidade da vida, mas quando você é não binárix as coisas são um pouco mais complicadas que isso...
Imagine que você não seja do gênero que lhe foi biológicamente assignado (se você é trans não precisa imaginar ), agora imagine que isso não queira dizer que você necessariamente é do gênero oposto, como se apenas houvessem duas disposições pré-existenciais de gênero e que nós, existência posterior, fomos feitos a imagem de ambas, apenas com alguns defeitos de troca de corpo. Não ouse falar uma abobrinhagem dessas!
Aí caímos nas normas de gênero.
"Um garoto de 12 anos andava todo dia por uma ponte nos estados unidos rebolando mais do que a maioria dos garotos rebolava. Com 15 o rebolado dele se acentuou e outros meninos mais velhos do bairro se juntaram para impedir isso, jogaram ele da ponte e mataram o garoto. A pergunta que fica disso é: Por que alguém morreria pelo jeito que anda ?"
- Judith Butler
Não apenas o jeito que se anda, mas toda uma heteronormatividade imposta binariamente aos gêneros e dada como certa, completa e objetiva tenta normatizar, escondendo os desvios com preconceitos infundados, sejam eles religiosos ou não, e que à partir de uma quebra com essa norma existe algum tipo de senso (in)comum que permite que o valor da vida de uma pessoa possa ser reavaliade à partir da mera forma como a mesma anda, estamos vivendo em uma ditadura machista e binária, onde além de não poder-se respirar enquanto mulher não se pode existir enquanto trans.
Em resumo a não binariedade não me deu muitas coisas, mas me tirou bastante. Se fosse questão de escolha, tinha sido uma troca muito burra. Perdi minhas referencias de banheiro, de pronome, de gênero, de quais roupas comprar, como falar , como sentar, como se movimentar, o que dizer, o que não dizer, como rir, como espirrar, como abrir a boca, como comprimentar, como se despedir, como abraçar, como deitar, como dormir, como beber, como dançar, como trocar de roupa, como escolher roupa, como combinar roupa com brinco com colar, saber o que é uma saia double deck, o que é uma chiffon e onde comprar elas baratas... Entender de maquiagem (mesmo sem se maquiar, ainda não quebrei essa barreira, por medo mesmo.) e várias outras coisas que se tornaram possíveis, que já me interessavam ou que se tornaram obrigatórias porque era (e ainda é) necessário explicitar uma existência outra a minha pessoa. É necessário gerar pelo menos o mínimo questionamento e torcer para após esclarecimento não cair no estereótipo do 'homem e saia' ou do 'homem gay'. É porque é difícil pra caralho entrar numa loja e falar "muito obrigada" ou "muito obrigade", por mais que eu fique pute quando escuto "boa tarde, o sr. quer o que ?" e minha vontade é gritar "que senhor o caralho ce tá loka ? " E aí que entra a pira de como se feminilizar mais e não parecer um homem gay de brinca e saia e bla bla bla. Como ser identificade. Eu não sei. Não sei como fazer quando por exemplo vão me apresentar pra outra pessoa. Aí dizem. "Esse é o Roque' Usam 'esse' e 'o'. Duas palavras que determinam automaticamente que Roque é homem, e eu viro, mais uma vez um homem de saia.
Eu não sou um homem de saia. E eu to tendo muita dificuldade em me fazer explícite em relação a isso.
Desculpa o texto um pouco longo demais, bjo no coração de tdxs

sobre estar presx no corpo

Fui enunciado desde pequeno a um cargo pronominal. Quando x médicx bravejou "é um meninO." Desde então foram doutrinações em cima de doutrinações, repetições quase inocentes de um mundo já dado onde vim a existir. Caí num tempo-espaço onde fui ensinado, por ter sido fadado a um pênis, a ser meninO. À partir deste gesto sutil do destino biológico, de um pareamento específico de gametas, fui obrigado a vestir azul, a brincar de bonecos, a andar e brincar com outros meninos e, principalmente, a ser mais um controlador e reprodutor da divisão binária de sujeitos. Fui maliciosa, mesmo que ingenuamente por parte de meus parentes, a separar o mundo em dois tons. Posto em meio a outras crianças também reprodutoras, exclui meninAs e brincadeiras dito femininas para brincar com meninOs, para gostar de bonecOs e brincadeiras de ação. Me disseram várias vezes que 'era mais fácil ser menino que menina', forma sutil de dizer que ser menino era certo e ser menina era errado. Me ensinaram mais que amar ser menino, me ensinaram a odiar ser menina. Me ensinaram a repugnar os diminutivos, as flores, as bonecas, as casinhas, os brinquedos rosas, os desenhos 'de menina'. Inclusive, me adestraram a saber o que era 'de menino' e o que era 'de menina'. Brincos e cabelos longos e saias e sutiãs e calcinhas e vestidos e sapatos de salto e lacinhos, tiaras, presilhas, pulserinhas e brincos. Nada disso me foi acessível nem ao menos no campo imaginativo. Fui desenhado a gostar de futebol e luta e filmes de tiro, a coçar o saco e se masturbar e exibir virilidade (seja lá o que isso quer dizer). Me mostraram o mundo e o dividiram em dois. Me disseram o que eu podia e não podia fazer. Como eu devia agir e sentar, as palavras que eu deveria usar. Me doutrinaram a olhar para saias e calças (ou bundas, como alguns preferem acreditar) e me tentaram fazer acreditar que assédios eram elogios.
Nunca fui perguntado se eu gostava de ser chamado de meninO ou se preferia ser chamado de meninA, nem ao menos me permitiram passar pela cabeça essa opção. Nunca fui permitido cogitar o que sou, duvidar da minha existência específica dentro do mundo binário dos gêneros e jamais assumiram que eu poderia me sentir incompatível com tudo isso que simbolizava ser menino ou ser menina, nunca me disseram que havia uma saída,que eu podia não precisar ser nenhum dos dois.
Cresci então num mundo de duas entradas e nenhuma saída. Nunca quis ser meninO. Nunca entendi o que era ser homem. Também nunca experimentei ser meninA e hoje não sinto também que sou mulher. Por muito tempo tudo o que quis era não ter que ser. E é aí que eu comecei a me deparar com o que chamarei aqui de a dor da existência estética.
Não me recordo quando foi a primeira vez que me constrangi com o mundo masculino, mas lembro de várias demandas que vinham do meu grupo de amigos. Lembro das primeiras vezes que vi uma revista com fotos de mulheres nuas e de como meu interesse era de todo não sexual. Eu lembro de uma curiosidade sobre a escolha dos locais das fotos e de um incômodo com certas poses que eram clássicas dessas revistas. Lembro também de por várias vezes ser confrontado com o fantasma da masturbação masculina. Da sensação mecânica de reafirmação através do masturbar-se e do lugar que a masturbação ocupava na escala de afirmação. Havia poder na afirmação do ato pelos meus amigos, um certo orgulho de executar a masturbação apenas pela execução da mesma. O esperma como prova fluida de que 'sim, éra-se homem'. Nunca demonstrei interesse por nenhum dos temas. Das revistas eróticas retirei apenas algumas boas entrevistas e dicas curiosas sobre moda e etiqueta. Da masturbação, apenas constrangimentos em rodas de conversa nas quais eu ficava sem falar, apenas observando, concordando automaticamente ao fim de cada frase e rindo de forma falsa. Assim passei grande parte da juventude dentro dos circulos masculinos, deixando que a minha estética biológica por sí só afirmasse no campo uma existência que não era a minha. Vivi escondido no privilégio de que só por ser biologicamente identificado como homem, meu silêncio dentro dos círculos masculinos era visto como concordância com as práticas do mesmo e não como total estranhamento dos mesmos.
Quando o sexo começou a se tornar prática no meu círculo de amizade me deparei com o mesmo problema da masturbação só que de forma mais feroz. A introdução do falar sexual introduziu o que mais tarde fui perceber como uma das mais nítidas formas de machismo. A verticalização verbal do ato me soava repugnante e a prática em si, desinteressante. Me afastei pela primeira vez de forma brusca dos círculos de conversa masculinos e me deparei pela primeira vez com uma questão que me acompanha desde então: não sou homem.
Não sei se já havia pensado nessa questão de forma aberta antes disso ou se era só estranheza e desconforto até então, mas próximo ao fim dos meus quinze anos eu lembro nitidamente de saber que eu não era homem. Consciência essa que me gerou mais dúvidas do que alívios e me pôs em um paradoxo existêncial. Se eu não me sentia homem, mas também não me sentia mulher, o que era esse sujeito que se dizia 'eu' ?
No início minha resposta se resumia a sexo: eu não faço sexo, mas não era só isso. Eu não fazia sexo e não me sentia masculino, nem feminino e não sabia fugir desse binarismo, até então essencial para existência.
Com o tempo a fuga pelos privilégios que eu usava quando mais novo se tornou o fardo pelos privilégios e hoje é o que chamo de a prisão da exigência estética.
Em termos simples, ter pênis, barba, ser alto, negro e grande me prendem num esteticismo que me assume, à priori de qualquer experiência como homem. E o que era uma fuga possível em épocas onde minha única preocupação era esconder um desinteresse masturbatório nas mulheres (ou homens) nuas se tornou uma capa nebulosa que separa o eu do que as pessoas veem em mim. Uma capa estética, que divide o que eu sou do que é percebido da minha existência. Uma luta não para a afirmação de um corpo num espaço, mas para a desafirmação desse corpo, para o processo inverso. Procuro, ainda sem solução, a escapatória dessa casca privativa. O desejo aqui não é de produzir um corpo que possa falar em existência, mas uma existência que possa ser independente do corpo ao qual ela está presa. É a luta constante para ser identificado pelo que se é e não pelo que se habita. É todo dia ser reafirmado como homem por todxs xs pessoas com quem convivo e ter que lutar ainda sem as armas exatas para que minha existência perpasse o corpo ameaçador e desquailificante dela mesma. Existo num corpo que existe antes de mim e é isso que fere. Sou colocado todos os dias, a todo momento numa posição que não é a minha e que luto o tempo todo para desconstruir. Não sou homem, mas sou dentro de um corpo de homem. E a luta com esse corpo não é uma luta de identidade de gênero. Não sou uma mulher presa num corpo de homem, sou um não binário apreedido por um corpo que não me representa e que, para além disso, representa o que de pior há dentre os espaços corpóreos. Habito a própria opressão que sofro. Carrego comigo o peso de ter uma existência homem. De ser um corpo opressor, um corpo agressor, um corpo violentador. De causar medo legítimo nos espaços, de violentar com a minha presença aos outrose a mim e a mim quando aos outros. Tenho que tomar banho todos os dias (ou quase todos os dias dentro de uma honestidade) e confrontar tudo aquilo que não sou, mas habito. Lavar um pênis que não é meu, mas me foi concebido, cujo uso foi definido previamente a minha existência ou a minha experiência de pênis. Cuidar de toda a extensão de um corpo que me envelopa, que me exige, que me move. Ter completa consciência de tudo aquilo que meu corpo apresenta e ao mesmo tempo conviver com ele, sabendo que nada desse mesmo corpo me contempla. Toda a minha possibilidade foi e é traçada como a de um homem e todas as espectativas lançadas sobre mim, sejam elas boas ou ruins, são lançadas a um homem. Homem que não sou, homem que não fui, homem que não vou ser.
Todas as saídas encontradas para esse problema estético até então foram, claro, saídas estéticas. Utilizar de adornos, de máscaras, de sutilezas estéticas para suavizar a imagem monstruosa que meu corpo é. Mas não são cordões e brincos e saias e tiaras e pulseiras e rímel e batom e unhas pintadas e sombrancelhas feitas que vão me livrar do fardo de ter que demarcar sempre o espaço em que eu existo, acredito inclusive que esse tiro sairia pela culatra, onde ao invés de me fazer sentir melhor, me dariam outro tapa de realidade que não quero ver, tendo que esconder ainda mais o que sou atrás de máscaras estéticas. Tendo que disfarçar ainda mais a minha imagem para poder ser aceito como aquilo que de mais simples há na existência: não quero ser homem, seja ele de brinco ou sem brinco, de saia ou sem saia, nem quero ser mulher. Apenas busco, ainda de forma tortuosa e dolorosa por muitas vezes, um espaço onde apenas ser seja suficiente e onde não haja uma pré concepção do que sou à partir de um corpo que sou obrigado a habitar.
Quero existir Róquin, sem pronomes, sem esteticismos e sem ser taxado, seja por amigxs, seja por desconhecidxs, seja por eu mesmo, em momento algum, de algo que apenas faz parte em mim. Caso haja um grito de liberdade, o mesmo é "Deixa-me ser, apenas ser." sem que eu tenha que ser lembrado o tempo todo, onde meu ser está preso.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

A "descoberta"

Olá =D . Hoje vou escrever sobre o terceiro tópico do questionário. "Quantos anos eu tinha quando "descobri" minha asexualidade e o que me fez percebê-la?"

   É engraçado lembrar disso agora que já passou tanto tempo, na época não foi nada engraçado. Acredito que  você meio que sempre sabe o que te interessa, mas tudo começa mesmo a acontecer na puberdade. Por volta dos quatorze, quinze anos... Que é quando o assunto da virgindade começa a acender nas rodas de conversa (como uma coisa ruim, claro) e que começam a aparecer os traços de sexualidade. Pessoas se interessando por pessoas, pessoas falando sobre fazer sexo, sobre quem perdeu e quem não perdeu a virgindade. Quem tá e quem não tá namorando com quem. Foi quando meus primeiros amigos gays saíram de seus armários e quando eu comecei a perceber que existiam diversos "rolês". Tinha o rolê HT (hétero, prxs desinformadxs) e o rolê HM (homo). Eu, particularmente não entendia nada. Mas achava o rolê HM muuuuuuuito mais divertido. As pessoas pareciam mais livres então comecei a andar mais com xs gays e lésbicas da minha cidade. Além disso eu frequentava outros dois espaços majoritariamente héteros. Eu jogava basquete pelo Clube Comary na equipe infantil e frequentava assiduamente o fliperama que ficava no centro da cidade.

   Eu tinha uma namorada na época. Eu não sabia se ela já tinha feito sexo ou não, mas foi ela que me encaminhou nos meandros sexuais. A gente começou a namorar ambos com 14 anos de idade, mas ela já tinha namorado um cara mais velho então tava ligada nuns paranauês que eu não tava. A primeira vez que fui pra casa dela ela me apresentou ao que fui descobrir futuramente que se chamariam preliminares. Antes disso eu apenas tinha fantasiado sobre estar com uma garota (como o mundo me dizia para fazer) mas nunca tinha realmente pensado sobre como seria. Eu lembro da sensação. Eu me divertia porque parecia proibido. Faziamos sempre escondidos, e ficávamos nos tocando e roçando um no outro. Com nossas respectivas roupas (normalmente apenas roupas de baixo). Sem gozar. Eu gostava da tensão do "se alguém chegar e ver a gente fazendo isso". Era um namoro muito bom. Ficamos oito meses juntos e eu acabei terminando com ela porque uma outra garota me tentou dizendo que queria muito fazer sexo comigo por  tempo o suficiente para que eu terminasse. Naquela época eu ainda era virgem (apesar de não admitir) e achava que terminando o namoro seria o jeito mais fácil de me livrar desse "problema".

  Pois bem, terminei o namoro e a tal garota desapareceu. Era pra eu estar decepcionadx com a situação, mas na verdade eu estava bem aliviadx, porque eu não fazia idéia de como ia ser essa coisa de fazer sexo, muito menos sabia se eu realmente queria aquilo. Minhas emoções eram muito conturbadas. Eu não conseguia sentir vontade de fazer sexo, mas eu achava que era porque eu nunca tinha feito e que essa vontade viria depois que o "medo da primeira vez" passasse. Alguns amigos mais próximos me disseram a mesma coisa e eu fiquei pensando quando ia acontecer.

   Após o término desse namoro, entre os 15 e os 16 anos eu conheci uma garota de outra cidade que estava passando o final das férias aqui. Nos conhecemos porque ela estava andando com uma prima minha e elas pediram para eu bater uma foto das duas (nos encontramos sem querer na rua). Na época eu tinha tranças raiz (ou nagô) e ela adorou minhas tranças e meu estilo. Pediu meu telefone para minha prima e quando eu estava de noite no meu quarto ela me ligou, dizendo que era a menina que estava com a minha prima e que queria me ver. A gente se encontrou no dia seguinte e após um pouco de conversa começamos a ficar. Ela era mais nova, acho que tinha acabado de fazer 14 anos, mas tinha saído de um relacionamento com um cara de 18 onde fazia sexo regularmente, então logo o sexo virou um tópico frequente de nossas conversas. Ela queria fazer sexo comigo e ela ia embora no fim da semana, logo: ela queria fazer sexo comigo até o fim daquela semana. Em mim misturavam-se sentimentos de nervosismo, ansiedade e medo e eu realmente não sabia o que dizer. Acabei dizendo que ia dar um jeito. Pois bem. Meus pais costumavam ir todo sábado para o Clube, na parte da manhã e normalmente eu não ia porque eu ficava sexta feira até tarde jogando video game e não conseguia acordar. Esse sábado "não foi diferente", mas eu esperei eles irem embora e liguei para a tal garota e ela veio aqui pra casa. Acho que foi aí que eu percebi que tinha alguma coisa diferente entre eu e os outros meninos.

  Eu via na voz dela que ela estava com muita vontade, ela me jogou na cama e veio se arrastando pra cima de mim e eu só conseguia dizer uma palavra: medo. E era a única palavra que saía da minha boca, repetidas vezes. medo.medo.medo.medo.medo.medo. até que ela parou e me perguntou "medo de que?" e eu disse que não podia fazer aquilo. Ela se sentiu ofendida e foi embora e acabou que nunca mais nos falamos. Eu continuei sem entender nada, mas fiquei me achando um idiota e passei uns bons anos remoendo a "merda que eu tinha feito".

  É engraçado pensar sobre descobrir-se asexual. Não é como ser gay ou lésbica ou bi ou hétero, porque essas pessoas sabem exatamente o que elas querem. Uma pessoa hétero quer fazer sexo com uma pessoa do sexo oposto, um gay busca outros homens, uma lésbica outras mulheres.  Eu, eu buscava boas companhias e a maior distância possível de sexo. E é aí que fica (ficou pra mim pelo menos) muito difícil de se aceitar, se autoafirmar e encontrar uma identidade na qual eu se encaixar. Tentei me relacionar com homens, parece que eu sentia menos tesão ainda do que com mulheres (se é que existe valor menor que 0 para o tesão), não deu certo. Comecei a experimentar meu próprio corpo. Comecei a experimentar masturbação anal pra ver se era a minha praia. Não era, mas eu curti introduzir objetos inanimados no meu ânus por um tempo. Mas minha questão nunca foi se masturbar, ainda gosto de me tocar (tanto pênis quanto ânus). A minha questão era atração sexual por outras pessoas. E esse foi meu maior problema. Eu não tinha. Era o único a minha volta que não estava interessado em fazer sexo com alguém e isso começou a me machucar.

  A pior parte de me sentir assim era que eu acreditava que ninguém me entendia. E foi aí que eu comecei de fato a andar com as lésbicas. Saí do basquete, o fliperama fechou e acabou que meu único lazer era beber com elas e conversar. Era um ambiente ótimo, eu me sentia muito bem e elas nunca se sentiram incomodadas com a minha presença lá. Com o tempo fiz grandes amigas nas quais eu pude confiar e contei para elas sobre a minha situação. Algumas se espantavam outras "desejavam ser assim", mas duas delas (cujo nome ainda não pedi permissão para colocar aqui) foram as que mais me ajudaram. Elas simplesmente disseram, cada uma do seu modo "ué Roque, você só não gosta de sexo. É só isso." Ora, e era realmente "só isso", mas pra mim até aquele momento parecia tanta coisa.

  O termo asexual só veio aparecer muito depois disso. Muito depois de muita coisa, muito depois de quando eu perdi minha virgindade, que foi com 17 anos com uma mulher, numa rua escura e não movimentada, as 20:30h. Era uma quarta feira, ela era minha namorada a menos de um mês e queria muito fazer sexo comigo. Todos os nossos amigos não acreditavam que eu era virgem apesar d'eu ter colocado pra ela isso [mas nunca havia mencionado uma possível asexualidade porque eu estava disposto a tentar novamente]. Finalmente era o momento. Ela com as calças arriadas, eu também, introduzo meu pênis e broxo. Para mim contou como perder a virgindade, para ela não sei. Não pretendo ter essa experiência de novo porque alí tudo ficou claro pra mim. Essa vida de sexo realmente não era pra mim.

  O termo asexual apareceu já na faculdade, mas foi muito depois da "descoberta" (eu prefiro o termo aceitação) de que eu não gostava de sexo. Foi já na faculdade, quando extremamente perdido sobre como me identificar para o mundo (eu costumava dizer que era bisexual, mas não fazia sexo e eu sabia que isso era uma definição errada). que fazendo uma pesquisa na internet sobre minha "bizarra condição" eu descobri a AVEN, que é um núcleo internacional de informações sobre asexualidade, com um fórum internacional e links para vários blogs de pessoas que também se identificavam como asexuais. Foi a primeira vez que senti que existiam pessoas que me entendiam de verdade e com quem eu podia trocar experiências, pra quem eu podia falar abertamente sobre como foram minhas experiências sem sentir necessidade de mentir ou inventar histórias.

  Acho que falar sobre quando eu descobri é separar os momentos em que eu senti que eu não tinha atração sexual por ninguém do momento em que eu admití isso e o momento em que eu finalmente descobri a minha orientação (a)sexual.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Sobre sair do armário

E chegamos ao segundo ponto dos tópicos que o site me propôs. "Você já saiu do armário para alguém e como foi a experiência?". Tenho que começar respondendo que eu nunca achei que o termo "sair do armário" se aplicava para asexuais. Eu acreditava (até tentar falar com alguém pela primeira vez) que eu não sofreria preconceito porque não estava falando sobre fazer parte de algumas das minorias que sofrem preconceito por suas orientações sexuais. Para mim, eu estava apenas dizendo "oi, meu nome é Roque e eu não faço sexo".

    Tudo mudou depois da primeira conversa, ou melhor, antes dela. Eu não sabia com quem falar, nem como falar nem por que falar. Comecei a achar que era melhor deixar as pessoas imaginarem que eu fazia sexo como todo mundo e seguir com minha vida. E foi o que eu fiz por muito tempo. Deixei as pessoas imaginarem. Aí veio a necessidade de falar e eu escolhi um dos meus grandes amigos na época, Bruno*. Foi uma catástrofe. Bruno era gay e acreditava que eu estava querendo dizer pra ele que também era gay mas não estava seguro o suficiente para usar essas palavras. Bruno cometeu um erro grave naquela conversa, um erro que acabou custando nossa amizade. Ele foi incompreensivo, continuava afirmando que eu não devia ter medo de ser gay, que ele já sabia que uma hora ou outra eu ia sair do armário e que meu relacionamento com Fernanda* era apenas fachada. Eu só conseguia chorar. Tinha juntado todas as forças que eu tinha para chegar para pessoa que eu mais confiava e dizer "eu sou asexual" e aquela pessoa tinha simplesmente pisado em tudo que eu disse e tentado enfiar uma homosexualidade goela a dentro. Eu sou panromantico, o que significa que sim, eu ficava e fico com homens. Mas não era(e não sou) gay. Eu sou asexual. Meu melhor amigo não conseguia entender (nem aceitar) o que eu era. Eu não sabia, mas aquela seria a primeira vez que eu sofreria preconceito pela minha orientação sexual.
  
   À partir desse momento foi ficando mais difícil. Eu comecei a ter medo de falar pras pessoas e comecei a simplesmente passar as tardes conversando  apenas com xs asexuais que eu conhecia pela internet. Parei de sair de casa e evitava me relacionar com pessoas porque imaginava que em algum momento elas iam ter expectativas de sexo e eu ia ter que explicar tudo e a pessoa não ia entender e mais uma vez ia fazer graça da minha cara ou ia achar que eu não gosto dela e ia vitimizar a situação (eu passei por todas essas experiências mais pra frente) e acabei me trancando cada vez mais.

   Finalmente aconteceu de encontrar pessoas com quem eu acreditei que poderia me abrir novamente sobre o tema. Eram alguns amigos que estavam comigo o tempo todo. Bem, o resultado não foi exatamente como eu queria que tivesse sido, na verdade foi bem pior do que eu achei que fosse ser (novamente) só que o resultado foi inesperado. Elxs fizeram chacota. Duvidaram da minha asexualidade, colocaram ela no mesmo patamar do celibato, ficaram querendo apostar "quanto tempo eu ficaria assim", "até quando eu ia aguentar", ou tentando encontrar explicações que me desmentissem minha fala.

  Esse foi o cenário no qual eu saí do armário as primeiras vezes. Quando eu me coloco como agênero a coisa vai ainda mais fundo, porque as pessoas olham pra mim e me reconhecem como homem. Ora, é óbvio. Eu sou alto, sou negro, sou "parrudo" , barbudo. Não é um "brinco feminino", um colar ou uma atitude sutil que vai mudar isso e é claro que, tendo todas essas características, eu só posso ser homem. Alguns membros da comunidade queer acham que estou fazendo piada quando afirmo minha identidade de gênero. Uma vez tive que sair chorando de uma palestra com uma trans porque, após ter feito uma pergunta sobre a dificuldade para conseguir hormônios ela me respondeu algo que começou com "você, enquanto homem..." e eu não consegui continuar ouvindo a resposta apenas levantei porque não queria chorar em público e saí da sala. No final da palestra eu tentei falar com ela sobre o porquê eu não tinha ficado pra ouvir até o final e ela achou que eu estava fazendo piada do discurso dela.

  Quando eu saí do armário para o meu pai foi tranquilo. Ele recebeu tudo muito bem, mas eu não falei sobre minha orientação romântica. Ainda não tenho coragem e acredito que nunca terei. Apenas disse que era asexual e o que isso significava, ele apenas disse que eu era 'muito corajoso de assumir uma postura que é completamente diferente da maioria'... Semanas atrás tentei falar sobre minha identidade de gênero e as coisas começaram a ficar confusas demais e ele começou a desviar assuntos, o que me leva a acreditar que ele também não quer saber. Minha mãe é outra história. Ela me viu com "brincos femininos" e teve um ataque. Eu tive que tirar os brincos para comprimentá-la e ela ainda assim ficou com uma cara esquisita, como se tivesse visto uma aberração. Decidi então que não falaria mais nada sobre o tema com eles e que tentaria viver o mais neutro possível na presença deles ( o que é muito, mas muito longe do que me agradaria como pessoa mas é impossível conseguir diálogo com a minha mãe nesse aspecto e eu acho mais saudável pra nossa relação fingir o máximo ser o que ela quer que eu seja do que entrar em brigas desnecessárias. Eu não vou deixar de ser quem eu sou e ela não vai mudar a opinião dela sobre o mundo, então deixemos como está).

  Sobre sair do armário em relacionamentos... Esse é um tema que já me rendeu histórias muito engraçadas (para não dizer tristes) e eu gostaria de falar sobre esses casos separadamente, caso a caso, num futuro próximo.

 bjo na alma ;*

Como prometido : wikiace, uma breve explicação dos termos referentes a orientação asexual

Eu realmente estou com muita preguiça de passar por tudo (e alguns termos são tão difíceis de explicar/ diferenciar) que acaba ficando difícil escrever um texto que seja bom o suficiente para não deixar dúvidas. Não vou tentar fazer o impossível e qualquer dúvida pode ser esclarecida (ou eu posso tentar) na sessão de comentários desse post.

   Bem, para começar acho importante explicar que dentro da comunidade não existem apenas pessoas que não fazem sexo de nenhuma forma. A asexualidade é um espectro abrangente e é um labirinto de especificidades que foi evoluindo com o passar do tempo para que a maioria das pessoas que se identificam com essa orientação pudessem se sentir representadas. Assim os termos foram evoluindo com o passar do tempo e mais e mais diferenciações surgiram.
   Existem asexuais que gostam de carinho, de toques, de beijos. Outrxs não. Alguns tem relacionamentos e/ou pensam em tê-los, outrxs tem aversão a relacionamentos. Existem asexuais que namoram ou pensam em namorar, porém não beijam. E há asexuais (ou demisexuais) que não sentem atração sexual a menos que tenham um vínculo romântico muito forte com a pessoa.
  Assim o espectro se abre bastante e temos várias variações de identidade asexual. Vou passar pela maioria delas da forma mais didática que conseguir.

ASEXUAL : orientação sexual caracterizada por não sentir atração sexual por outras pessoas. O que não determina se a pessoa se masturba ou não, se ela gosta ou não de beijos, se ela pensa ou não em relacionamentos e até se ela faz ou não faz sexo. (Aqui eu tenho opiniões bem pessoais. Para mim e para parte considerável da comunidade, uma pessoa que faz sexo, mesmo que não sinta atração sexual, está dentro de outra definição do espectro, seja ela gray-ace ou demisexual, porém existem asexuais que consideram que a atração sexual e o ato sexual duas coisas diferentes e relatam que elxs lidam com a relação sexual da mesma forma como lidariam com sentar e assistir um filme.)
   Vale lembrar que asexualidade nada tem a ver com (dis)função sexual, assim pessoas asexuais ainda tem excitação, que é parte natural do nosso processo biológico e, muitas vezes não conseguimos compreender de onde veio essa excitação. (eu, por exemplo, às vezes to no ônibus e, de repente fico excitado assim, sem mais nem menos e aí passa e eu fico pensando o que que aconteceu)
 Para além disso vale também ressaltar que asexualidade é completamente diferente de celibato, sendo o celibato quando a pessoa faz a opção de, mesmo sentindo atração sexual, não realizar o ato, ou seja, é uma ação consciente, uma escolha e a asexualidade é uma orientação sexual determinada pela não existência da atração sexual.


DEMISEXUAL  : orientação sexual caracterizada por apenas sentir atração sexual por pessoas com as quais haja um laço emocional muito forte. Assim a atração sexual só viria após algum tempo de namoro, por exemplo, e mesmo assim, só se esse namoro criasse um vínculo romântico muito forte para a pessoa. A atração sexual relatada por demisexuais é o que alguns chamam de atração sexual de segunda ordem (sendo a primeira ordem uma atração sexual física e a de segunda ordem uma atração sexual baseada na relação estabelecida com a pessoa )


GREY-A : Grey-A ou área cinza (ou asexuais cinzas) são a parte mais complicada de explicar do espectro, porque é a orientação mais fluida. Determinada por (mas não só), pessoas que normalmente não sentem atração sexual porém podem vir a senti-la às vezes, podendo haver ou não entendimento de como aconteceu;
 pessoas que experimentam atração sexual porém não necessariamente a vontade de fazer sexo;
 pessoas que sentem prazer e desejo sexual porém apenas sob determinadas circunstâncias específicas e limitadas.
Algumas pessoas dentro do Grey-a utilizam o termo hiposexual para determinar sua baixa atração sexual.



            : ORIENTAÇÃO ROMANTICA :

   Apesar de ter explicado rapidamente na primeira postagem sobre as orientações românticas, quero voltar nesse ponto e ser mais específico em algumas definições que ficaram de fora.
  A orientação romântica, como eu já havia explicado, é uma denominação utilizada principalmente por asexuais para determinar (caso haja) a identidade de gênero com a(s) quais queremos nos relacionar. Já que não sentimos atração sexual, não poderiamos nos dizer (hétero,bi,homo,pan)sexuais porque isso seria uma contradição. Portanto utilizamos o sufixo -romântico para explicitar nossas preferências. Assim temos xs heteroromanticxs, homoromanticxs, biromanticxs, panromanticxs, poliromanticxs e aromanticxs. De todos esses termos acredito que o que realmente precise de uma explicação um pouco mais detalhada é o aromânticx. Aromânticxs são asexuais que também não sentem atração romântica. É simples assim.

  Ainda sobre o espectro romântico, e retomando o que eu havia dito no início do texto, mesmo com todas essas nomenclaturas, muita coisa ainda fica dentro da fluidez da sexualidade e da individualidade de cada pessoa, assim, por mais que queira fazer um texto explicativo sobre as orientações dentro da asexualidade,  alguns aspectos não podem ser encaixados dentros das nomenclaturas e variam de pessoa para pessoa. Por isso vou exemplificar em tópicos rápidos algumas das particularidades que eu conheço à partir de troca de experiências.

- Existem asexuais Xromânticxs que gostam de dormir de conchinha, gostam de carinho e não se incomodam caso haja algum contato com zonas erógenas dx companheirx

- Existem asexuais Xromânticxs que se incomodam quando há contato com zonas erógenas.

- Existem asexuais aromânticxs

- Existem asexuais Xromânticxs que não gostam de beijar e mantém relacionamentos sem beijo

- Existem asexuais Xromânticxs que não gostam de nenhum tipo de toque, mas se apaixonam pela companhia e mantém relacionamentos assim.

asexual, não assexuadx !

Eu estava a muito tempo pensando em escrever sobre minha sexualidade. Não queria fazer isso no outro blog porque ele mistura muitos textos reais com ficção com recortes de conversas e eu acho que ia ficar tudo muito disperso, mas ainda não tinha encontrado uma forma de escrever sobre o tema de modo que eu acreditasse que o blog fosse durar mais de um post. Navegando no site asexuality.org, um forum internacional sobre o tema, eu encontrei uma thread que era como um "post-ajuda" pra quem quisesse começar a escrever um blog sobre o assunto e não soubesse como começar. O mesmo disponibiliza 20 tópicos para serem "respondidos" nos blogs e eu achei que facilitaria começar a escrever se eu tivesse sempre um tema para interligar com minhas experiências pessoais. Assim dedico esse espaço para relatar impressões minhas sobre a sexualidade e minha vida. As postagens vão ser o quão pessoais e íntimas eu puder ser...

   A primeira pergunta do quiz era sobre qual é minha orientação romantica / sexual. Para ser breve e escrever de uma forma  que possa ser compreendida eu vou explicar onde me encontro no espectro da sexualidade e prometo que a próxima postagem trabalhará melhor os conceitos do espectro da asexualidade, que é cheia dos seus termos específicos. 

  Meu nome é Roque. Tenho 21 anos de idade, sou estudante de psicologia, meu signo é escorpião, minha cor favorita é roxo. Minha orientação sexual ? Sou asexual. Asexual e panromântico. E é aqui que começam a aparecer as terminologias que não aparecem em nenhum outra orientação sexual porque as mesmas não se fazem necessárias. Acho que, apesar de não querer ser extremamente didático aqui e estar guardando isso para outra postagem, pelo menos uma explicação básica deva ser dada :
                 
 A DIFERENÇA ENTRE ORIENTAÇÃO SEXUAL E ORIENTAÇÃO ROMANTICA :
                                             

     Essa é uma diferenciação utilizada normalmente dentro do meio asexual e é muito útil porque mesmo que não sintamos atração sexual por ninguém (indepentende da identidade de gênero), existem asexuais que ainda sentem atrações românticas e gostariam de ter ou tem relacionamentos. Assim utiliza-se as mesmas nomenclaturas que se utilizaria para a atração sexual (homo, hetero, bi, pan ... ) porém como não sentimos atração sexual, utilizamos a terminologia romantica. Assim temos heteroromanticxs, biromanticxs, homoromanticxs, panromanticxs ... e aromânticxs, claro. Porque existem asexuais que também não sentem atração romântica.

Assim, sou asexual e panromanticx, o que significa que, apesar de não estar sexualmente interessadx em pessoas, ainda me sinto romanticamente atraídx por algumas pessoas e penso em ter relacionamentos.

                  QUAL O MEU PROBLEMA COM O TERMO ASSEXUADX ?
Bem, eu acredito que muitas pessoas façam isso por falta de conhecimento. Existe pouco material em português sobre asexuais e ainda existe pouco ativismo asexual por aí, então as denominações ainda não são claras nem utilizadas o tempo inteiro. Inclusive muitos asexuais escrevem "assexual" ou mesmo "assexuadxs". Meu problema com esse termo é que ele é um termo biologicista, utilizado para falar sobre determinadas espécies que não possuem sistema reprodutor e se reproduzem de forma assexuada. Nada tendo a ver com orientação sexual ou com a espécie humana e servindo mais como uma palavra de reconhecimento automático "não faz sexo = assexuadx" do que como uma "forma de ofensa". De qualquer modo me incomodo com o fato e gostaria de frizar aqui para que, pelo menos xs amigxs que leem o blog pudessem tentar não cometer o mesmo erro. Em relação ao termo assexual, é apenas questão de norma ortográfica que exige o ss, mas eu não acredito que seja necessário e sua forma com apenas um s é a forma universal (inglês) de reconhecimento, logo, utilizo a mesma.